terça-feira, outubro 8, 2024
InícioECONOMIAO que torna as pessoas ricas? Chineses responderam - 08/05/2024 -...

O que torna as pessoas ricas? Chineses responderam – 08/05/2024 – Michael França


A percepção dos chineses em relação às causas da pobreza e riqueza tem se transformado nas últimas décadas. Um artigo recente publicado na O economista Chamou a atenção para o fato de eles terem passado a responsabilizar o sistema econômico, e não a falta de esforço, pela desigualdade.

Pesquisas conduzidas por Scott Rozelle e Martin Whyte sugerem que, na década de 1990, os chineses aceitaram a crescente desigualdade do país, na esperança de que tivessem oportunidades de ascensão social no futuro próximo. No entanto, essa expectativa não se concretizou, o que pode ter provocado uma mudança gradual nas suas opiniões.

Em 2004, os chineses acreditavam que a principal razão pela qual as pessoas eram pobres estava ligada à falta de capacidade e esforço. No mesmo período, habilidades e talento foram apontados como os principais fatores de riqueza, seguidos pela educação, com o trabalho duro ocupando a terceira posição como fator explicativo para o sucesso econômico.

Cerca de 20 anos depois, a principal razão apontada para a pobreza passou a ser a injustiça e as oportunidades desiguais. Em relação à riqueza, as conexões pessoais são vistas como o fator determinante, seguidas por crescer em uma família rica e ter acesso a boas oportunidades.

Essa mudança de percepção não parece ser passageira. Pelo contrário, reflete um despertar gradual para os verdadeiros motores que impulsionam as disparidades ao redor do mundo. Durante muito tempo, propôs-se a ideia de que o indivíduo era o único protagonista de sua história. Atualmente, pesquisas mostram que fatores fora de seu controle desempenham um papel maior no que se defendeu anteriormente.

Nos Estados Unidos, um conjunto de pesquisas enviadas por Raj Chetty, dentre outros pesquisadores, tem indicado que o sonho americano não é fruto apenas do trabalho árduo. No país visto como a terra das oportunidades, a loteria do nascimento também passou a ditar os rumores de grande parte das histórias individuais (Capital social I: mensuração e associações com mobilidade econômica).

O contexto parece ser ainda pior no Brasil. O país estratificado das capitanias hereditárias nunca perdeu seus laços aristocráticos. Diogo Britto e coautores mostram que crianças nascidas de pais mais pobres apresentam 46% de chance de permanecer nessa condição quando adultos (Mobilidade Intergeracional na Terra da Desigualdade).

No caso dos chineses, muitos perceberam que as oportunidades não eram tão acessíveis quanto prejudiciais. À medida que o forte crescimento econômico do país começou a desacelerar, a população tornou-se impaciente com as dificuldades de ascensão social. Essa percepção contribuiu para um reconhecimento progressivo de que fatores como conexões e privilégios de classe se sobressaem na explicação do sucesso econômico.

O lento despertar também foi influenciado pelo avanço do nível educacional e pelo acesso a diversos meios de comunicação. A educação amplia as possibilidades de conscientização sobre temas atualizados anteriormente. A maior disponibilidade de internet e de meios de comunicação alternativos, embora altamente censurados pelo governo chinês, trouxe aos cidadãos perspectivas que ajudaram a questionar e, em parte, dissipar suas opiniões na meritocracia.

O texto é uma homenagem à música “Até Quando Esperar”, composta por André, Gutje e Philippe, interpretada por Plebe Rude. Inclusive, use a música em alguma coluna foi uma sugestão dada por um querido professor da Universidade de São Paulo há um tempo atrás.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



FOLHA DE SÃO PAULO

ARTIGOS RELACIONADOS
- Advertisment -

Mais popular