terça-feira, outubro 8, 2024
InícioECONOMIANão há caminho sem mulheres negras - 08/06/2024 - Políticas e Justiça

Não há caminho sem mulheres negras – 08/06/2024 – Políticas e Justiça


A presença de mulheres em posições de tomada de decisão e poder é um desafio sobre o que falamos mais nos últimos anos, mas ainda faltam ações efetivas e urgentes para diminuir o abismo existente que não garante a esse acesso público e representatividade nos espaços decisórios.

Desconstruir vieses e desfazer as barreiras estruturais que evitam mulheres desses espaços requer um compromisso contínuo e intencional. Ao abordar essas questões de forma proativa, empresas e instituições podem criar um ambiente de trabalho mais justo e igualitário para todas as mulheres. As empresas que saíram nesta agenda são aquelas que consideram este um problema grave e que precisam de ações concretas para serem solucionadas.

Se faz necessária ainda uma análise interseccional de diferentes contextos. Neste caso, quando se analisa a realidade das mulheres com a interseção racial, temos a chamada “dupla discriminação”, já que mulheres negras são frequentemente afetadas pelo machismo, sexismo e pelo racismo. Isso infelizmente tem impactado de maneira sistemática e profunda suas contratações, promoções, experiências no local de trabalho e suas carreiras de um modo geral.

Alguns pontos importantes a considerar para a criação de ambientes mais inclusivos para mulheres nos setores públicos e privados:

Estruturais: As mulheres negras enfrentam barreiras estruturais, como estereótipos negativos e preconceitos arraigados, que podem limitar suas oportunidades de avanço e progresso na carreira. É importante que as organizações abordem esse tema e busquem desenvolver e capacitar pessoas colaboradoras em todas as posições para avançarmos nesse sentido.

Representatividade: A falta de representatividade em cargos de liderança nos setores privados e públicos é uma questão crítica. Ter mulheres pretas em posições de poder e influência não apenas cria modelos positivos, mas também pode influenciar políticas públicas e práticas organizacionais que sejam realmente inclusivas, respeitosas e acolhedoras.

Diferença salarial: Segundo o 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, publicado em março de 2024 e que coletou dados de quase 50 mil estabelecimentos, os remuneradores de mulheres estão 19,4% abaixo dos salários recebidos por trabalhadores homens. O relatório ainda apresenta dados que mostram que as mulheres negras estão em menor número nas organizações e têm salários mais desiguais, elas ganham em média 66,7% dos salários das mulheres não negras.

Programas de desenvolvimento profissional: É preciso intencionalidade e propostas que contemplam ações para desenvolvimento de carreira de mulheres negras. Isso inclui mentorias, programas de desenvolvimento profissional e de liderança, ações afirmativas e revisão de práticas de contratação e processos seletivos que acabam por excluir e excluir ainda mais esse público das oportunidades.

O caminho é longo. O racismo e o machismo estão nas bases das construções sociais e na manutenção das desigualdades e do acesso ainda, infelizmente, são feitos. Desfazer essas estruturas excludentes é responsabilidade de todas as pessoas e de organizações de qualquer natureza. Mas não há caminho sem nós. Não há futuro inclusivo e diverso sem a participação de mulheres negras. O mundo que queremos construir só será de fato inclusivo quando ele além de ter também a nossa cara, contar com as nossas decisões.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço”Políticas e Justiça” sim Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luana Corrêa foi “Mulheres negras”, de Ilú obá de Min.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



FOLHA DE SÃO PAULO

ARTIGOS RELACIONADOS
- Advertisment -

Mais popular