sábado, outubro 5, 2024
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A presença dos pais importa mesmo? – 08/09/2024 – Laura Machado


A sociedade brasileira tem refletido e discutido mais sobre a figura paterna na vida dos filhos. Dar banho, colocar para dormir, ajudar nas tarefas da escola, planejar e participar da programação com os filhos e estar disponível para conversar são exemplos de uma paternidade ativa. Quão importante é o papel do pai?

A atividade de cuidado e participação na vida dos filhos é específica para mulheres. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2022 mostram que, considerando casais que exercem alguma atividade profissional e que não têm filhos ou têm filhos com mais de 4 anos, a alocação de horas à vida doméstica varia a depender da presença de filhos.

Mulheres com filhos dedicam em torno de 20 horas por semana nas tarefas domésticas, enquanto mulheres sem filhos, 15 horas, uma diferença de 33%. Homens com filhos concentram-se em cerca de 11 horas por semana nas tarefas domésticas; homens sem filhos, 10 horas, 10% menos. É curioso como homens com e sem filhos destinam quase as mesmas horas nos trabalhos e cuidados domésticos.

Considerando que a presença de uma criança exige cuidado e atenção, talvez nossa sociedade não esteja habituada mesmo a visualizar os pais nas atividades de cuidado, pois todo o ajuste acontece no tempo de dedicação feminina.

Parece que naturalizamos a ausência dos pais, tanto dos que estão na mesma casa dos filhos quanto dos que não estão. Será mesmo que ter um pai presente faz alguma diferença?

A Pnad nos permite ver o impacto de ter um pai que mora no mesmo domicílio na probabilidade de um jovem de 16 anos não frequentar ou concluir o ensino médio. Sabemos que importante não é necessariamente viver na mesma casa, mas ser participativo ou não, mas podemos usar esse dado sabendo de suas limitações.

Um menino negro que não mora com o pai tem 20% de probabilidade de deixar a escola, enquanto um menino negro que mora com o pai tem 12%, um impacto de 8% a mais na chance de evasão no caso da ausência do pai. Uma menina branca que não mora com o pai tem 9% de probabilidade de evasão, enquanto uma menina que mora tem 6%, 3% a mais de chance de evasão.

Assim, o pai pode ser tão importante que apresente o mesmo efeito na redução da evasão escolar do que o programa Pé de Meia, do governo federal.

Essa comparação limitada ajuda a tangibilizar a importância da paternidade. Imaginemos, então, qual seria o impacto do aumento da paternidade ativa.

Concluir o ensino médio muda uma vida: aumenta a empregabilidade, a produtividade, a saúde, entre outros. Também sabemos que a presença paterna influencia outras áreas. É de se esperar que um pai participativo e saudável ajude os filhos a terem mais empatia e segurança emocional, o que, novamente, gera uma série de efeitos positivos.

As implicações para a política pública são fortes. Precisamos e estimular o incentivo à paternidade ativa saudável em todas as suas formas. Começando, por exemplo, com a licença paternidade.

Em termos culturais, uma licença paternidade de cinco dias sinalizando para todos que a dedicação de cuidados deve ser desigual e que o papel do pai é menos relevante, justamente em um momento tão delicado quanto aos primeiros momentos de vida.

Outra iniciativa importante seria contar aos pais o tamanho da sua importância, que é muito maior que a do Pé de Meia.

A paternidade ativa fortalece os vínculos afetivos e emocionais com os filhos, além de trazer mais significado para a vida do pai. É crucial reforçar que o pai tem um papel tão importante quanto o da mãe na vida de um filho, e as consequências de um papel bem cumprido são estrondosas.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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