domingo, outubro 6, 2024
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Veja lista das cidades que mais receberam emendas pix neste ano



Entre janeiro e 5 de julho de 2024 o governo liberou para as caixas de mais de 3 mil municípios R$ 3,98 bilhões em emendas parlamentares na modalidade de transferência especial, as emendas conhecidas pix, que foram suspensas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em ações judiciais que cobram mais transparência deste tipo de emenda.

Entre os dez municípios que mais receberam esse tipo de transferência figuram algumas capitais, como Macapá (AP), na primeira posição, e São Paulo, na sétima. A lista das 10 cidades que mais receberam emendas pix conta com pequenos municípios, como Coari (AM), em segundo lugar, e Coração de Maria (BA), em terceiro.

  1. MACAPÁ-AP: R$ 44.391.815,83 – Prefeito: Dr. Furlan (MDB)
  2. COARI-AM: R$ 33.648.764 – Prefeito: Keitton Pinheiro (PP)
  3. CORAÇÃO DE MARIA-BA: R$ 20.282.398 – Prefeito: Kley Carneiro Lima (PP)
  4. COTIA-SP: R$ 18.590.076 – Prefeito: Rogério Franco (PSD)
  5. SENA MADUREIRA-AC: R$ 18.582.668 – Prefeito: Mazinho Serafim (Podemos)
  6. CARAPICUÍBA-SP: R$ 18.285.054 – Prefeito: Marcos Neves (PSDB)
  7. SÃO PAULO-SP: R$ 16.343.729 – Prefeito: Ricardo Nunes (MDB)
  8. OSASCO-SP: R$ 16.084.268 – Prefeito: Rogério Lins (Podemos)
  9. SÃO MIGUEL DO GUAMÁ-PA: R$ 15.249.610 – Prefeito: Eduardo Pio X (MDB)
  10. GUARAREMA-SP: R$ 15.118.900 – Prefeito: Zé do PL (PL)

Esse tipo de transferência foi apelidado de emendas pix, pois são enviadas diretamente para o destinatário, sem a necessidade de especificar para que os recursos devem ser utilizados, como ocorre com aqueles destinados a fundos municipais de saúde ou viários. É um dinheiro que entra na conta do município sem uma finalidade específica e que pode ser utilizado pela prefeitura da forma como melhor a convenha.

No total, o valor do repasse efetuado em 2024 é 248% superior ao destinado no mesmo período do ano passado, quando as transferências especiais para os municípios chegaram a R$ 1,6 bilhão, além de ser maior do que nos anos inteiros de 2022 , 2021 e 2020, quando o modelo de transferência especial foi implementado.

Na manhã desta sexta-feira (16), o Supremo Tribunal Federal formou maioria para manter as decisões do ministro Flávio Dino que suspenderam os pagamentos das emendas parlamentares impositivas, que incluem as “emendas pix”, tanto individuais quanto de bancada estadual.

Já votaram elaborada a decisão de Dino em três ações que pedem a revisão desse tipo de pagamento dos ministros André Mendonça, Edson Fachin, Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli. Os julgamentos obtidos na madrugada desta sexta-feira (16) no plenário virtual e deverão terminar no mesmo dia.

O STF analisa as decisões proferidas por Dino em três ADIs (Ação Direta de Inconstitucionalidade) propostas pela Procuradoria-Geral da União (ADI 7695), pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), na ADI 7688, e pelo PSOL (ADI 7697) .

As duas primeiras ações pedem mais transparência no pagamento das chamadas “emendas pix”. Já o PSOL alega que a obrigatoriedade de execução das emendas parlamentares individuais e a bancada implicam “em um desarranjo na separação dos poderes, ao deslocar parte significativa da prerrogativa de gestão orçamentária do Poder Executivo para o Legislativo”.

Partidos do Centrão comandaram 9 das 10 cidades que mais receberam emendas pix

Como demonstra a tabela no início desta reportagem, os partidos do Centrão comandaram 9 das 10 prefeituras que receberam os maiores valores de “emendas pix”. A única exceção é Guararema em São Paulo, governada pelo PL, o principal partido de oposição ao governo.

Além de Macapá, o MDB comanda outros dois municípios que estão no ranking. Depois apareceram empatados o PP e o Podemos com duas prefeituras cada, o PSDB, o PSD e o PL, com uma prefeitura cada.

Para fazer os cálculos, a Gazeta do Povo utilizar os dados disponibilizados no portal Siga Brasil, do Senado Federal, com atualização das transferências até o dia 5 de julho – data limite para que o Congresso tenha feito transferências de pix para municípios, em razão do período pré-eleitoral. Foram considerados os valores referentes às emendas de transferência especial que foram repassadas apenas aos órgãos municipais.

Ano eleitoral motiva maior repasse de emendas às prefeituras

Não são apenas órgãos municipais que podem receber emendas de transferência especiais. Cerca de R$ 500 milhões, de um total de R$ 4,48 bilhões repassados ​​via emendas pix, foram transferidos para estados e Distrito Federal no período analisado.

A priorização aos municípios, segundo o cientista político e consultor independente Antônio Flávio Testa, é explicada pelas eleições municipais que ocorrerão em 6 de outubro. Ele lembra que muito da campanha política local, especialmente para candidatos à reeleição, é focada em mostrar realizações de obras, cujos recursos vêm de verbas federais ou emendas parlamentares.

Testa ainda comenta que, neste ano, o cenário é mais tenso, com projeções que apontam derrotas para o governo. “Daí, o esforço enorme de cooptar aliados”, no caso, o Centrão, com a liberação de altos valores em emendas.

O cientista político e assessor legislativo de Malta Advogados, Luiz Felipe Freitas, afirma que o aumento no repasse de verbos para as prefeituras é um movimento esperado, principalmente quando se considera que o parlamento é o responsável por executar essas emendas. “Foi assim em 2022, está sendo agora e provavelmente em 2026 se manterá”, comenta ele.

Municípios pequenos recebem mais emendas pix que metrópoles como São Paulo

Dos 10 municípios que mais receberam recursos, alguns têm apenas algumas coleções de milhares de habitantes. É o caso de Coari (AM), cuja população é de 70.616 pessoas de acordo com o IBGE. O município recebeu R$ 33,6 milhões, o segundo maior valor fornecendo emendas pix, atrás apenas de Macapá (AP), com R$ 44,4 milhões.

O valor recebido por Coari é um pouco mais que o dobro do montante recebido por São Paulo, R$ 16,3 milhões. Luiz Felipe explica que, com a aproximação das eleições legislativas, chega a hora dos deputados eleitos em 2022 devolverem o apoio aos municípios. “Neste sentido, municípios menores acabam virando alvo”, afirma o analista.

No entanto, ele avalia que cabe à sociedade cobrar uma fiscalização mais severa para o uso dessas aplicações, pois o uso de forma indiscriminada desse tipo de transferência não deveria ser normalizado.

Testa também avalia que as transferências especiais deveriam ser mais transparentes nas suas destinações e aplicações, exigindo mais fiscalização, inclusive do Tribunal de Contas da União (TCU).

Pagamento de emendas se tornou moeda política entre governo e parlamento

O repasse de emendas se tornou um ponto tão importante na relação entre o Executivo e o Legislativo que, na Lei Orçamentária desse ano, o Congresso previu um cronograma de repasses.

O artifício foi barrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o veto foi suspenso pelo Congresso diante do compromisso do Planalto em fazer os repasses conforme previsto.

O acordo foi cumprido às pressas antes do trabalho imposto pela legislação eleitoral: a soma de todas as emendas (individual, inclusive como pix, de bancada, de comissão e de relator) paga somente na primeira semana de julho chegou a R$ 8,63 bilhões.

Ainda que algumas emendas tenham repasse obrigatório, como os indivíduos e as bancadas estaduais, cabe ao governo federal liberar esses repasses de acordo com sua adequação a programas e ações ministeriais. Muitas vezes, os valores das emendas aprovadas em um determinado ano são repassados ​​somente nos anos posteriores.

Essa discriminação do governo para realizar os repasses de acordo com seu calendário faz com que as emendas se tornem um ativo de barganha política. Por essa razão, o Congresso tentará novamente aprovar o cronograma de pagamentos na Lei Orçamentária de 2025. Ao estabelecer um calendário de repasses, os parlamentares obteriam maior liberdade e controle sobre o orçamento anual.

Decisões do STF influenciam na guerra pelo controle do orçamento

No entanto, nas suas decisões recentes, Dino determinou que “a execução de emendas impositivas fica sustentada até que os poderes Legislativo e Executivo, em diálogo institucional, regulem os novos procedimentos”.

O ministro aceitou manter as abordagens dos recursos destinados às obras já iniciadas e em andamento ou às ações para atendimento de calamidade pública formalmente declaradas e reconhecidas.

Diante das decisões de Dino nas semanas anteriores, o Congresso anterior não apenas reavivar o cronograma, mas adotar outras medidas para garantir a continuidade dos repasses, atendendo às interrupções de transparência estipuladas pelo ministro.

Por se tratar de uma decisão monocrática, ou seja, tomada individual pelo ministro, Dino teve que submetê-la à análise do plenário da Corte. Agora, diante da reafirmação pelo Plenário das decisões de Dino, resta saber quais movimentos o Congresso fará para manter o controle sobre a parte do orçamento que lhe compete.

Na terça-feira (13), o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) disse que é papel do Congresso limitado às emendas e não ao STF. A publicidade dos dados, imposta pela Constituição, desagrada parlamentares, pois revela quais deles têm recebido mais verbas do que outros, o que tende a criar atritos dentro da base de apoio ao governo Lula, por insatisfação de quem recebeu menos.

Nesta sexta, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, negou um pedido do Congresso para suspender as decisões de Flávio Dino sobre as emendas.

De acordo com Barroso, não cabe à presidência do STF “sustar os efeitos de decisões proferidas por um de seus integrantes, em sede de suspensão de liminar, quando tais decisões já estão sendo objeto de deliberação pelo Colegiado do Tribunal”.



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