Jogadores do Chennai Super Kings comemoram com o troféu após a vitória contra o Gujarat Titans na partida final de críquete Twenty20 da Indian Premier League (IPL).
Sajjad Hussain | Afp | Getty Images
O órgão antitruste da Índia chegou a uma avaliação inicial de que a fusão de US$ 8,5 bilhões da Reliance e Walt Disney ativos de mídia prejudicam a concorrência devido ao seu poder sobre os direitos de transmissão de críquete, disseram quatro fontes à Reuters na terça-feira.
É o maior revés até agora para a fusão planejada entre Disney e Reliance, que visa criar a maior empresa de entretenimento da Índia, que competirá com Sony, Zee Entertainment, Netflix e Amazon com um total de 120 canais de TV e dois serviços de streaming.
A Comissão de Concorrência da Índia (CCI) alertou reservadamente a Disney e a Reliance por meio de um aviso no qual compartilhou suas preocupações sobre o controle delas sobre os direitos de transmissão do esporte favorito do país mais populoso do mundo, disse uma das fontes.
A CCI pediu que as empresas expliquem em 30 dias por que uma investigação não deve ser ordenada.
“O críquete é o maior problema para o CCI”, disse outra fonte.
A empresa resultante da fusão, que seria majoritariamente detida pela Reliance, do homem mais rico da Ásia, Mukesh Ambani, teria direitos lucrativos no valor de bilhões de dólares para a transmissão de críquete na TV e em plataformas de streaming, gerando temores sobre seu poder de precificação e seu controle sobre os anunciantes.
Reliance, Disney e o CCI não responderam aos pedidos de comentários. Todas as fontes se recusaram a ser nomeadas, pois o processo do CCI é confidencial.
Especialistas antitruste alertaram que a fusão, anunciada em fevereiro, poderia enfrentar um escrutínio intenso, especialmente na questão dos direitos esportivos.
Anteriormente, a CCI fez cerca de 100 perguntas privadas à Reliance e à Disney relacionadas à fusão. As empresas disseram ao órgão regulador que estão dispostas a vender menos de 10 canais de televisão para amenizar preocupações sobre poder de mercado e ganhar uma aprovação antecipada, disseram fontes à Reuters.
Mas eles se recusaram a ceder em relação ao críquete, dizendo à CCI que os direitos de transmissão e streaming expirariam em 2027 e 2028 e não poderiam ser vendidos agora, e que qualquer movimento desse tipo exigiria a aprovação do conselho de críquete, o que poderia atrasar o processo.
O Conselho de Controle de Críquete da Índia tem Jay Shah, filho do ministro do Interior do primeiro-ministro Narendra Modi, Amit Shah, em um de seus principais cargos como secretário.
‘Ficando complicado’
A Reliance-Disney deterá os direitos digitais e de TV de críquete para as principais ligas, incluindo o torneio de críquete mais valioso do mundo, a Indian Premier League.
O aviso do CCI pode atrasar o processo de aprovação, mas as empresas ainda podem resolver as preocupações oferecendo mais concessões, disse a primeira fonte.
“Isso é um prenúncio de coisas complicadas… O aviso significa que inicialmente a CCI acha que a fusão prejudica a concorrência e quaisquer concessões oferecidas não são suficientes”, acrescentou a pessoa.
Uma segunda fonte disse que a CCI deu às empresas 30 dias para responder e explicar sua posição, e as preocupações atualmente giram em torno de como os anunciantes podem enfrentar desafios de preços se as entidades forem fundidas.
“A CCI está preocupada que a entidade possa aumentar as taxas para anunciantes durante eventos ao vivo”, disse a pessoa.
Jefferies disse que a entidade Disney-Reliance terá uma participação de 40% no mercado de publicidade nos segmentos de TV e streaming.
O críquete tem fãs fanáticos na Índia, o país mais populoso do mundo, com cerca de 1,4 bilhão de pessoas, e as partidas são procuradas pelos anunciantes.
A agência de mídia GroupM estima que os gastos com patrocínio, endosso e mídia relacionados à indústria esportiva totalizaram quase US$ 2 bilhões em 2023. O críquete foi responsável por 87% desses gastos.
O ex-chefe de fusões da CCI, KK Sharma, disse que a fusão poderia levar a “um controle quase absoluto sobre o críquete”.
A Zee e a Sony planejavam criar uma gigante de TV de US$ 10 bilhões na Índia e em 2022 receberam um aviso semelhante. Elas ofereceram algumas concessões vendendo três canais de TV, o que as ajudou a ganhar uma aprovação da CCI, mas a fusão acabou fracassando.