sábado, outubro 5, 2024
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Impeachment de Moraes exige o “sim” de 54 senadores



Enquanto uma petição virtual de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), se aproxima de um milhão de assinaturas na plataforma Mudança.orgcresce o interesse sobre como esse processo seria prolongado. Moraes, que lidera a lista de 59 pedidos de impeachment de ministros do STF atualmente registrados no Senado, com 23 propostas, enfrentará mais um pedido a partir de 9 de setembro, quando será protocolado e a lista de adesões concluídas.

Se o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aceitar o pedido de impeachment contra Moraes, será iniciado um trâmite rápido que poderá durar cerca de um mês para analisar a denúncia, debater, permitir a defesa e, finalmente, julgá-la no plenário com todos os 81 senadores, sendo necessários dois terços (54) dos votos para a sua publicação.

Esse 24º pedido de impeachment contra Moraes ganhou força após a divulgação pela Folha de São Paulo de mensagens mostrando que o magistrado teria utilizado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de forma informal para embasar inquéritos contra cidadãos e aliados políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa é mais uma tentativa de avanço no Congresso o debate sobre o ativismo judicial e o impedimento de um membro da Suprema Corte, tema que tem ganhado força na sociedade nos últimos anos diante de uma série de fatos.

Até hoje, o Senado já retirou dois presidentes da República em 1992 e 2016, participando como instância final de julgamento. A Constituição Federal reserva ao Senado um papel ainda mais exclusivo e até agora inédito quando se trata de ministros de tribunais superiores e do chefe do Ministério Público Federal. Esses processos semelhantes aos dos presidentes da República são também tanto políticos quanto jurídicos, mas iniciados e concluídos apenas pelo Senado, conforme o artigo 52 da Constituição e a Lei do Impeachment (1950).

Mas Pacheco até agora não deu sinais de que pode levar o processo futuro. Ele tem interesses pessoais e políticos que podem ser atrapalhados por esse processo. Cogita-se, por exemplo, que ele conte com o apoio do PT para assumir um ministério ou lançar sua candidatura ao governo de Minas Gerais.

Atuação política de Moraes e julgar sem declarar-se impedido são hipóteses de impeachment

A Lei nº 1.079/1950 prevê cinco situações para abertura de processo de impeachment contra ministros de tribunais superiores:

  1. Proferir julgamento em causa em que seja suspeito;
  2. Exercer atividade político-partidária;
  3. Ser negligente no cumprimento dos deveres do cargo;
  4. Procedimento de maneira incompatível com honra, dignidade e decoro da carga;
  5. Comer outros atos definidos como crimes de responsabilidade.

Qualquer cidadão pode apresentar uma denúncia, que deverá ser acompanhada de provas ou testemunhas. Se o pedido de aceitação pelo presidente do Senado, uma comissão especial de 21 senadores será formada para analisar a denúncia. Esse colegiado deverá se reunir em até 48 horas para eleger o presidente e o relator e, em até 10 dias, elaborar um parecer sobre a admissibilidade da denúncia, que será lido no plenário do Senado, publicado no Diário do Congresso e distribuído entre os senadores.

A votação do parecer ocorrerá na sessão seguinte, em discussão única e votação nominal, sendo aprovada por maioria simples, ou seja, pelo menos 21 senadores. Se uma denúncia for admitida, o Senado enviará cópia do material ao denunciado, que terá 10 dias para apresentar sua defesa. Após as respostas e respostas do denunciado, a emite novo relatório em até 10 dias, que também requer maioria simples para ser aprovado.

A defesa e a acusação podem participar de todas as etapas do processo, incluindo o direito de inquirir e contestar testemunhas. Se a denúncia for julgada procedente, o ministro é suspenso do cargo até a decisão final, com perda de um terço de suas remunerações, que serão devolvidos em caso de absolvição, além de poder contra acusações criminais.

Para o julgamento final no plenário, que pode resultar na destituição definitiva da carga, são necessários dois terços dos votos dos senadores (54). Na sessão especial, o processo é lido, as testemunhas são ouvidas e há um debate oral. Os senadores então votaram respondendo “sim” ou “não” à pergunta: “Cometeu o acusado do crime que lhe é imputado e deve ser condenado à perda de sua carga?” Se aprovado, o impeachment resulta na destituição imediata do cargo e na inabilitação temporária para quaisquer funções públicas, por até cinco anos, período que será definido pelo plenário logo após as instruções.

Especialista aponta necessidade de mudar o regimento para avanço do impeachment

Segundo o cientista político Ismael Almeida, o principal obstáculo à deflagração do rito previsto pela Lei do Impeachment para ministros do STF é a recepção dos pedidos centralizada nas mãos do presidente do Senado.

“Embora a lei determine que uma denúncia seja encaminhada à Mesa Diretora, composta por 11 membros, o acaba sendo uma barreira ao avaliar individualmente se a denúncia deve avançar ou não, enquanto ele deveria apenas verificar se as formalidades foram atendidas. Assim, a Mesa só se manifestaria se o presidente encaminhasse a denúncia a ela, o que nunca ocorreu até hoje”, resume.

O hábito de Rodrigo Pacheco e seus antecessores de reter as denúncias e encaminhá-las à Advocacia-Geral do Senado para que façam pareceres de mérito é o principal argumento em defesa de um Projeto de Resolução do Senado para mudar essa realidade, o PRS 11/ 2019. A proposta, apresentada pelo ex-senador Lasier Martins (Podemos-RS), visa garantir que a Mesa conheça todas as denúncias, evitando que a decisão de obrigação fique exclusivamente com o presidente. A proposta, hoje parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), é vista como divisor de águas para viabilizar pedidos de impeachment.

O projeto já foi designado ao ex-senador Antônio Anastasia (PSD-MG) e ao senador Marcos Rogério (PL-RO) como relatores, mas ambos não deram continuidade à tramitação. Atualmente, está sem relator, embora o Espiridião Amin (PP-SC) tenha manifestado interesse em assumir a responsabilidade. Seu pedido ganha força em meio à campanha da oposição pelo impeachment de Moraes.

Para alguns analistas, uma mudança no regimento também poderia aliviar a pressão sobre o presidente do Senado, permitindo que pedidos tramitassem sem depender de sua decisão individual. Há o entendimento de que, uma vez aberto, um processo de impeachment contra qualquer autoridade específica resultaria em absolvição.



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