sexta-feira, janeiro 24, 2025
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Lula busca culpas para falhas do governo em queimadas no país



Diante das queimadas de proporções históricas que se alastraram recentemente em São Paulo, no Pantanal e na Amazônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por apontar dúvidas em vez de considerar falhas do governo federal e assumir responsabilidades. No domingo (25), o presidente pressionou-se em conter os milhares de focos de queimados e atos criminosos, ordenando que a Polícia Federal (PF) investigue responsáveis, além de culpar as mudanças climáticas pela tragédia. Ele não demorou, contudo, o corte de palavras em prevenção e combate a esses eventos que já ocorreram no começo de sua gestão.

Lula foi criticado, principalmente por parlamentares de oposição, por entrar em contradição com uma das principais bandeiras de sua campanha presidencial: a defesa do meio ambiente. O petista condenou diversas vezes o avanço das queimadas nos biomas nacionais sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) e prometeu um cenário melhor. Mas agora que as queimadas são mais numerosas e extensas em seu governo em relação ao anterior, Lula recorreu a gestos escapistas.

Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ao longo do ano de 2024 e antes mesmo do último fim de semana, de 1º de janeiro a 23 de agosto, o país já havia registrado 102.670 focos de queimadas, número recorde para o mesmo período nos últimos 14 anos. Cerca de metade dos pontos se concentra na Amazônia. O maior patamar em igual base de comparação ocorreu em 2010, com 114.265 focos registrados.

A extensão da área queimada ultrapassou os 113 mil quilômetros quadrados no primeiro semestre, superando qualquer outro registro da série histórica que vem sendo contabilizada há 17 anos.

O senador Márcio Bittar (União Brasil-AC) traçou por meio de suas redes sociais uma mudança de atitude do governo, particularmente da ministra Marina Silva, no sentido de assumir responsabilidades. “O Brasil está sob fumaça e nunca assistiu a tanta queima no campo. Hipócritas, Lula e Marina não têm mais a quem culpar, pois antes era mais fácil, atribuindo tudo a Bolsonaro. Agora, eles acabam atribuindo os fatos ao aquecimento global, ao El Niño e as outras variações do clima”, reclamou.

O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) criticou a incoerência nas ações de Lula e Marina Silva. “É lamentável ver o presidente Lula e a ministra Marina Silva, que tanto criticaram o governo Bolsonaro pelas queimadas, agora se esquivando da responsabilidade. e buscar desculpas. Essa postura só demonstra a hipocrisia que domina o atual governo”, disse.

Falhas e omissões de Lula com queimadas podem gerar nova crise com o agro

A postura de Lula pode resultar mais prevista em uma nova crise com o agronegócio, sobretudo se endossar a tese levantada pela ministra do meio ambiente, Marina Silva, de crimes orquestrados como “dia do fogo”, numa referência ao 10 de agosto de 2019, quando houve registros de queimadas simultâneas em mais de 470 propriedades rurais. “Há uma forte suspeita de que está ocorrendo de novo”, afirmou ela.

O aumento das taxas com um setor que, como o próprio presidente regular, não lhe é favorável, também pode ser induzido por prejuízos aumentados causados ​​pelas chamas. Só em São Paulo, as perdas são estimadas em R$ 1 bilhão, segundo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A ministra afirmou se preocupar com o ocorrido no território paulista e avaliou que a situação poderia ser até pior se o governo federal não tivesse se preparado desde o início para eventual aumento nas queimadas, negando qualquer falha.

Apesar das ponderações feitas pela ministra, o cenário crítico atual já foi planejado em interferência e por características cíclicas das queimadas e do clima seco. Mesmo assim, o combate aos incêndios teve um corte de cerca de 50% no montante previsto para o Orçamento da União de 2024. O Ibama chegou a pedir R$ 120 milhões para essa tarefa, mas o governo destinou R$ 65,7 milhões. Por fim, a dotação publicada após a votação no Congresso caiu para R$ 50 milhões.

Polícia Federal sai à caça de responsáveis ​​por milhares de focos de incêndio

A PF já instaurou 31 inquéritos para apurar as causas dos incêndios em diversas regiões do Brasil e outras investigações podem ser abertas nos próximos dias. As delegações da corporação estão mobilizadas para atuar especialmente em territórios indígenas e situações de interesse da União, como nos casos em que atrapalhe a operação de aeroportos.

“Até agora, não conseguimos detectar nenhum incêndio causado por raios, o que significa que tem gente colocando fogo”, afirmou Lula ao visitar neste domingo (25) o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ​​(Ibama), em Brasília. “A Polícia Federal vai investigar e o governo vai trabalhar com os estados no combate aos incêndios”, prometeu o presidente na rede social X.

Bandeira preservacionista de Lula sucumbe às falhas de seu governo

Apesar de o presidente ter sido eleito assumindo a missão de defender as florestas e criticando a gestão ambiental de Bolsonaro, o petista tem se mostrado incapaz de enfrentar o desafio das queimadas, principalmente na região amazônica.

Além de citar investigações sobre incêndios criminosos, Lula aproveitou uma nova crise ambiental para exigir mais ajuda dos países mais ricos, no sentido de conter as mudanças climáticas. Essa tem sido uma forma de lidar com problemas relacionados ao meio ambiente – contra os quais não tiveram sucesso.

“Temos que combater as mudanças do clima com muita inteligência, investimento, inclusive com financiamento dos países mais ricos que já devastaram suas florestas. Essa conta não pode ser apenas do Sul Global”, anotou o presidente no X.

Para a oposição, o chefe do Executivo já não consegue mais esconder as suas falhas. “Lula bateu mais um recorde e, sob sua gestão incompetente, o país está em chamas”, protestou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), líder da minoria no Congresso, em suas redes sociais.

Ele e muitos congressistas, sobretudo os mais próximos de Jair Bolsonaro, cobraram manifestações de protestos de ecologistas e de celebridades, tais quais as muitas feitas durante o governo do ex-presidente. “Cadê como manifestações dos artistas? Cadê a ministra do meio ambiente?”, reagiu a deputada Bia Kicis (PL-DF).

A deputada Sílvia Waiãpi (PL-AP) cobrou ativistas para que criticassem Lula como fizeram com Bolsonaro. “O Brasil enfrenta recorde de focos de incêndio, e o que vemos? Silêncio total! Os mesmos artistas e ONGs que se reuniram para atacar Bolsonaro por uma faísca, hoje permanecem calados e omissos. Um boicote contra o Brasil, contra os brasileiros”, disse .

“É hora de alerta não apenas com o fogo que vem destruindo casas, plantações e mata animais, mas também das vozes que se calam, e deveriam falar, diante desse momento crítico que o país enfrenta”, disse o deputado Sargento Gonçalves (PL- RN).

Onda de queimadas em SP foi contida no próprio fim de semana, diz governo local

Os incêndios em série registrados no interior de São Paulo nos últimos dois dias, a partir de quinta-feira (22), somaram 2,8 mil queimadas, que consumiram 59 mil hectares de lavouras de cana-de-açúcar, uma perda calculada pelo segmento em mais de R$ 350 milhões. No domingo (25), havia 21 cidades de São Paulo com focos ativos, e outras 46 cidades em alerta máximo para possível aproximação das chamas. O governo paulista afirma ter controlado a situação a partir desta segunda-feira (26), enquanto apura responsabilidades pelas queimadas.

A polícia de São Paulo prendeu em flagrante três suspeitos, entre os quais um homem de 42 anos que teria ateado fogo em uma mata na região de Batatais (SP). Durante a prisão, ele teria afirmado que era membro da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele já foi preso anteriormente e tem antecedente criminal por outros crimes, como homicídio. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Defesa Civil, as rodovias interditadas ao longo do fim da semana pela fumaça estão liberadas desde domingo (25).



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